segunda-feira, 25 de junho de 2012

Você tem medo de quê?

"O quê?... O quê? O que foi mesmo?" Esse pode ser o primeiro sintoma de uma grave patologia. Se este é o seu caso, cuidado! Você pode estar sofrendo de Respreterfobia. Estima-se que 70% das pessoas que ligam para os concursos de rádio, muitos nem ouviram a pergunta, apenas ligaram quando ouviram um número ser anunciado, sejam respreterfóbicos. Os pacientes que sofrem desse mal aceitam qualquer coisa distribuída por modelos de promoções. Um pedaço de queijo grátis? Sim, por favor. Uma dose de vinho em um copinho de plástico? Pode servir. Um gafanhoto frito grátis? Claro, e, por favor gostaria de mais um para levar para o meu amigo. Sem falar que os respreterfóbicos entram em qualquer fila e se juntam a qualquer multidão reunida, mesmo que não saibam qual é o motivo da aglomeração.

Pois é, os tempos mudaram. A modernidade trouxe a internet, Xbox 360 e os cartões de crédito com chip, mas também veio nessa onda o sertanejo universitário (nunca entendi essa relação), Windows Vista e, claro,  transtornos... Sofremos muita pressão, no trabalho ou no caminho para o trabalho, e até mesmo nos momentos que tiramos para o lazer (parques, cinemas, shoppings, restaurantes). Estas novas formas de se levar a vida acabaram por produzir novas patologias das mais diversas. 

O falso médico (como dito no prefácio) Tim Lihoreau enumerou e comentou as mais novas fobias que vem acometendo grande parte da humanidade em seu livro "Você tem medo de quê? - Fobias Modernas" (Editora Globo, 2008). Com certa frequência, muitas pessoas tem lhe questionado: "Falso médico, as fobias modernas desse livro são verdadeiras?". "Sim e não", responde o autor, "o que desejo dizer é: talvez sim, mas talvez não".

Bom, na intenção de evitar diagnósticos tardios, seguem algumas fobias, mas caso o leitor se identifique com alguma patologia seria necessário se orientar melhor lendo o livro ou procurando um médico (ou um falso médico):
 
Agmenofobia
Medo de entrar na fila errada

Alicalofobia
Medo de não ser tão inteligente quanto as pessoas com quem anda

Antefamafobia
Medo de que as pessoas estivessem falando de você, mas pararam logo que entrou no recinto

Aquadormofobia
Medo de babar enquanto dorme em viagem

Cadofobia
Medo de falhar

Canusofobia
Medo de ficar grisalho

Carpenasofobia
Medo de que o vejam cutucando o nariz

Ceterinfanofobia
Medo dos filhos dos outros - Se manifesta em todas as áreas da sociedade: pessoas solteiras, casadas, sem filhos, religiosas, etc. Também não é preciso dizer que não é possível sofrer de ceterinfanofobia em relação aos próprios filhos: estes não tem defeitos e não há como serem temidos.

Coligafobia
Medo de fazer a mala


Congressiofobia
Medo de reuniões


Contumafobia
Medo de concordar com colunistas de direita

Coulrofobia
Medo de palhaços (Sugestão de Renan de Simone)

 
Discimedicofobia
Medo de estudantes de medicina - Não é medo de médicos (comum e perfeitamente compreensível), nem o medo de estudantes (raro, porém forte), mas sim o medo daquilo que os dois, combinados, podem fazer contra você.

Discipulofobia
Medo de estudantes

Diverufobia
Medo de reconhecer a verdade

Donoculofobia
Medo de fazer contato visual

Edificatorfobia
Medo de pedreiros (não estamos falando em usuários de crack)

Estafobia
Medo do verão

Exiturrofobia
Medo de que o próprio pau seja pequeno demais - Todo homem do planeta já sofreu, em um ou outro momento da vida da exiturrofobia. Como a definição sugere, essa é uma desordem exclusivamente masculina, para a qual só existe um cura conhecida: sexo.

Expelofobia
Medo de ir ao banheiro na casa de alguém

Exterviafobia
Medo de sair da faixa do meio

Finchartafobia
Medo de que o papel higiênico acabe


Fortavocofobia
Medo de falar alto ao usar fones de ouvido

Genviafobia
Medo de pesquisas de opinião

Hebdomofobia
Medo das noites de domingo

Idemofobia
Medo de sair com a mesma roupa que outra pessoa

Ilerogofobia
Medo de perguntas sem resposta - Deve-se observar que as perguntas sem resposta em questão aqui não são as grandes perguntas, tais como qual é o significado da vida, será que Deus existe. Não. A ilerogofobia é o medo de perguntas que parecem ser sinceras mas que não passam de simples enchimento verbal.

Indensofobia
Medo de estar com uma sujeira presa no dente

Insistofobia
Medo de estacionar

Maloidofobia
Medo de feder sem que ninguém avise

Manepostofobia
Medo de ter feito alguma coisa horrível quando estava bêbado

Nimitempofobia
Medo de abusar da hospitalidade de alguém

Nomenofobia
Medo de marcas

Nudufobia
Medo de ficar pelado

Paremusofobia
Medo da música dos pais

Perdetofobia
Medo de não ter salvado o trabalho

Perditufobia
Medo de ser pego com a mão na massa - Acredita-se que um enorme número de cidadãos respeitadores da lei sejam perditufóbicos, e por isso tenham evitado viver uma vida inteira - ou pelo menos um momento - de crimes simplesmente por terem medo de ser pegos.

Postofobia
Medo de estar atrasado

Priormotafobia
Medo de tomar a iniciativa

Proemiofobia
Medo de preliminares


Propriofobia
Medo da própria família

Rusmusofobia
Medo de música sertaneja (com uma certa dose de razão, às vezes...)


Sedsocofobia
Medo de se sentar ao lado da pessoa errada em um jantar
Timpanofobia
Medo de cristãos renascidos

Uxorfobia
Medo da própria esposa (É, algumas pessoas deviam ter levado isso mais a sério...)

Vaporfobia
Medo de ter deixado alguma coisa ligada


Ventignofobia
Medo de ter peidado alto enquanto ouvia música com fone de ouvido

Vilitasofobia
Medo de passar perto de produtos em oferta


Visulibofobia
Medo de assistir ao filme do livro

Links das imagens:
Nike 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Crime e castigo


Com certeza esta notícia não é novidade para você. Para dizer a verdade, a mídia tem feito seu papel em explorar o caso de cabo a rabo. A infidelidade de Marcos Matsunaga (morto por Elize) foi um dos pivôs do crime, uma das “novidades” neste caso, é que Elize, assim como a amante, foram encontradas num site de garotas de programa. A sexualidade fez mais uma vítima.

Lembra do filme “Uma linda mulher” (Pretty Woman—1990), onde conta-se a história de uma prostituta que é contratada por um milionário para acompanhá-lo em compromissos sociais? No filme, o milionário acaba se apaixonando pela garota. Da mesma forma, o caso dos Matsunaga não fica atrás, porém com finais diferentes.

Há uma cena no filme em que Edward (Richard Gere) revela a um amigo que Vivian (Julia Roberts) é uma prostituta.


Segundo o depoimento de Elize, Marcos a ameaçou dizendo que a mandaria de volta para o “lixo de onde veio”. Há 2 anos atrás, um caso ganhava a imprensa e a opinião pública envolvendo um certo goleiro e uma mulher que fazia filmes pornôs. Nestas situações parece haver uma mensagem do tipo: “Olha no que dá se apaixonar por uma prostituta!” Contudo, vale uma reflexão.

Se um homem se apaixona por uma mulher que por acaso é prostituta, até aqui tudo bem. A questão é quando um homem se apaixona por uma mulher por ela ser uma prostituta, daí a história pode mudar. Para o psicanalista Contardo Calligariso desejo de um homem que se apaixona por prostitutas (e planeja ‘redimi-las’) é sustentado por uma fantasia (inconsciente) de vingança -contra a mulher e contra ele mesmo, por ter se deixado seduzir”.

Ora, esta vingança também é compartilhada por muitas pessoas e transformada numa expiação de culpas. Jogamos pedras, simples assim. Prevalece o dogmatismo de que para os homens está autorizado o gozo, entretanto para as mulheres, ainda mais aquelas que fazem do gozo sua profissão, um destino horrível as aguarda caso se submetam ao prazer.

Luiz Felipe Ponde defendia em sua coluna (Folha de S. Paulo) sobre o direito das mulheres serem vadias. “Vadia, até ontem, era uma mulher fácil. Mas, agora, é um termo que designa um novo direito: aquele de vestir saia curta, mostrar os seios, e não ser objeto de violência sexual”, diz o autor. A questão aqui é a própria mulher autorizar-se, além do movimento feminista, ou da prevalência social machista. Autorizar-se por ser mulher e ponto.
 
Talvez possamos ir pouco mais longe de discursos fechados ou escamoteados pelo designo de ser politicamente correto. Um pouco tarde para muitos que, vítimas de suas próprias sexualidades, acabam responsabilizando o outro por seus fracassos ou desejos.

Bom, ainda segundo Ponde, “não existe ‘sexo correto’, sexo é o lugar no qual nos perdemos, e por ser gostoso, sempre ‘metemos’ os pés pelas mãos.

A imagem foi tirada daqui

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A função do eco na fala

Já parou em um lugar onde tem eco? Difícil resistir a tentação de não testá-lo... Quando não dá mais para se segurar a gente solta um ÉÉCOOO! em resposta temos É-COO-O-O. Se não estamos sozinhos e, se nesse meio há um engraçadinho, esse diz AI, SE EU TE PEGO, AI AI, SE EU TE PEGOO!

Na hora todo mundo ri, mas aqui a gente pode pensar: qual é a lógica, disso? O que o outro esperava, que o eco continuasse, SÁBADO NA BALADAAAA...? No mínimo, fica a expectativa em como a frase vai voltar. No máximo, É-GOO-O-O.

Lendo o texto de Adam Phillips sobre o amor, esse dizia:

"Do ponto de vista psicanalítico, os milagres de afinidade são ecos de nossos primeiros fascínios. Esses estados de absorção são a forma mais imediata de memória, a sensação de exclusividade, o sinal misterioso do passado. O que está sendo recrutado, ou melhor, evocado – o que possibilita essas experiências transformadoras – é o conhecimento e desejo da infância."

Para a física, trata-se da repetição de um som refletido por outro corpo. Na mitologia, amou Narciso em vão. Associado à logia torna-se o estudo de onde se vive. Para a semiótica, Umberto. Do ponto de vista psicanalítico, a palavra eco é um significante que comporta uma série de questões. Dentre elas, interessa-nos a função das palavras "ecoando" em nossos discursos, mas que somente são ouvidas, caso alguém se disponha a.

Assim como nosso amigo (engraçadinho) obteve como resposta do eco a última palavra dita em sua frase, independente do tamanho que esta assumisse, da mesma forma, a última palavra usada em nossas frases cumpre a mesma função. Explico: Uma vez ocupando o outro lado do divã, percebemos que há na fala do Sujeito uma espécie de jogo que, a todo momento, procura colocar o analista numa situação de cumplicidade. Um egodo, de fato. Não à toa, muitas pessoas tem a "mania" de terminarem suas frases com um sonoro "ENTENDEU?!"; "NÃO É!?"; "SABE?!"; "HEIN!"; "HUN!"... 

Dentro de um bate-papo essas armadilhas estrategicamente montadas pelo inconsciente funcionam (terrivelmente) bem! A última palavra da frase dita pelo Sujeito torna-se um gancho que este outro se vê na obrigação de responder: "ENTENDI! ENTENDI!". Isso oferece algumas garantias, como por exemplo a ilusão de que o social existe, de que numa conversa estamos nos entendendo. A coisa se desmorona diante daquilo que o eco devolve. O gancho assume uma dupla função, ao mesmo passo em que é emissor torna-se também receptor. Não é incomum os pacientes se sentirem ameaçados diante do silêncio do analista num determinado momento da sessão, ainda mais naquelas horas em que se acabou de dizer algo que, supostamente escapou - note que agora estou falando de outro lugar; deitado no divã. É estranho pois tem-se a impressão de que a palavra fica reverberando na sala. Ao se ouvir, também se é visto. Percebe-se! Aquela palavra dita para comprometer o outro na lógica do discurso, revela um Outro que antes de fisgar qualquer outra pessoa, destina-se primeiramente ao próprio Sujeito. Lhe submete.  

Quando algo assim acontece aquilo que o eco devolve não é mais a última palavra da frase, foneticamente falando, até podem ser iguais, entretanto, é agora um novo Significante que deve (re)assumir seu lugar dentro da cadeia do discurso. Isso se, e somente se, deixa de comportar a noção de repetição. Phillips estabelece que nossos "fascínios" vividos numa primeira infância, marcam a ponto de ecoarem em nossas escolhas futuras, criando inclusive o estado de completude típico da paixão. Bom, no mais, batemos ótimos papos. Não é!?...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Héctico

"...O que ele ia vendo: que nem não adiantava. Ah, não adiantava não, de jeito nenhum - Mãitina estava na bebedeira. A mal derradeiro deixavam ela tomasse como quisesse; porque estavam supeditando escondido na cachaça o pó de uma raiz, que era para ela enfarar de beber, então, sem saber, perdia o vício. Mas nem não valia. Podiam subpôr aquilo, sustanciar em todas quantidades, a meizinha não executava. Judiação. Mãitina bebia e rebebia, queria mais, ela gastava a cachaça toda. Tudo, que todo o mundo fazia, era errado.
A Rosa. Miguilim pergunta à Rosa: - 'Rosa, que coisa é a gente ficar héctico?' '- Menino, fala nisso não. Héctico é tísico, essas doenças, derrói no bofe, pessoa vai minguando magra, não esbarra de tossir, chega cospe sangue...' Miguilim deserteia para a tulha, atontava..."

- Mais Guimarães Rosa, fazfavor!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A se-pa-ra-ção



Fui assistir ao filme A Separação, do iraniano Asghar Farhadi. Não porque alguém havia recomendado, ou dito que este filme levou o Urso de Ouro e 2 de prata (melhor ator e atriz) no último Festival de Berlim, mas sim porque estava passando no Cine Segall. Aliás, esta sala tem me levado a lugares espetáculares (Um Dia, O Artista, só para se ter uma ideia), parece que a sala é um lugar fora-do-lugar, mas esse já é outro assunto. 

O enredo do filme, apesar de se passar no Irã, não foge aos dilemas que se passa aqui ou acolá. Pior, trata-se de um drama que mais deixa perguntas do que oferece respostas. Assim, assistir ao filme não é algo lá muito confortável. Ouvi uma mulher dizer ao final do filme: "Ai que dor nas costas, esse cinema não é confortável!". Antes fossem as cadeiras almofadadas a fonte de incômodo (rsrs).  

Bom, a história é sobre uma família, Simin (Leila Hatami), Nader (Peyman Moadi) e a filha de ambos, Termeh (Sarina Farhadi, filha do diretor), que está prestes a se separar, pois Simin quer deixar o Irã para garantir um futuro melhor para Termeh. Nader não apóia a ideia não podendo deixar seu pai, doente de Alzheimer, sem cuidados. A história vai ganhando corpo com a entrada de Razieh, contratada por Simin para tomar conta do pai de Nader, porém Razieh está grávida e aceita o emprego sem seu marido saber. Após um incidente todos os personagens são postos em grandes dilemas que incluem justiça, religião, preconceitos, moral e claro, cultura.

O filme não apresenta julgamentos de valor, ou procura defender um ou outro lado, apenas expõe as situações com uma narrativa clara e precisa. O que causava um "NOSSA!" na fila de trás. Interessante notar como as tramas que vão surgindo entre Simin e Nader, Razieh e seu marido, Nader e Razieh, o marido de Razieh e Termeh, o pai de Nader e Razieh ou com o próprio Nader, Termeh e Nader ou Simin... enfim, quase sempre os conflitos envolvem a mesa de um juiz. Sempre envolvendo aspectos morais, religiosos ou até mesmo financeiro, como é o caso de Razieh e seu marido, os conflitos vão expondo a "vaidade" de cada personagem. 

Me parece que há nesta história toda uma denúncia social que o Irã vem sofrendo. Segundo Marcelo Hessel, no site omelete (uol): "No fim, o choque não é tanto entre estratos, mas entre dois momentos: o país que acreditava nos dogmas, numa predestinação social, e o país que hoje convive com a inevitabilidade da mudança, em que a cidadania se conquista diariamente". Porém, a denúncia faz eco em cada um de nós.

Seja em dogmas religiosos, conflitos morais, problemas financeiros, somos expostos ao que de mais arrogante se apresenta: nossa arbitrariedade. O termo "fogueira das vaidades", conforme vai se acentuando no filme vai tirando algo de nosso conforto, mesmo sentados em cadeiras almofadadas que nada tem de errado. Vamos percebendo que a resolução destes conflitos não será dada por um outro qualquer, vide que os juizes do filme não são aqueles quem decidem a trama da história. Só por curiosidade, na primeira cena do filme, o "olhar" do juiz é o que vemos na tela, ou seja, somos o juiz porém não é nosso o discurso (!!!). Os dilemas são internos, esse outro (com "o" minúsculo) são meros fantoches de um Outro (com "O" maiúsculo - conceito lacaniano denominado de grande Outro), pois vão sendo arrastados a um jogo de interesses que ganha corpo em seu próprio Outro, até o momento em que os discursos já não fazem mais sentido. Reina a mentira, ou melhor, a verdade de cada um. Cena marcante (spoiler alert!) é a do personagem que mais apresenta um comportamento violento durante todo o filme e, ao final, percebemos que a agressão é consumada em si mesmo. E, porque não! em nós, meros espectadores.

Para fechar duas coisas me ocorreram (ah! assistir ao trailer me causa arrepios... brrrr!),
- parte da música A montanha (Engenheiros do Hawaii): "sem final feliz ou infeliz... atores sem papel, no alto da montanha, à toa, ao léu..." e,
- uma tirinha que vi hoje no Facebook: