domingo, 12 de fevereiro de 2012

Interesses reais ou virtuais

Li a seguinte afirmação de Zygmunt Bauman (2011, p. 23) sobre as relações on-line e off-line, em seu livro "44 cartas do mundo líquido moderno": "O mundo on-line, por outro lado, cria uma multiplicação infinita de possibilidades de contatos plausíveis e factíveis. Ele faz isso reduzindo a duração desses contatos e, por conseguinte, enfraquecendo os laços, muitas vezes impondo o tempo - em flagrante oposição à sua contrapartida off-line, que, como é sabido, se apoia no esforço continuado de fortalecer os vínculos, limitando severamente o número de contatos à medida que eles se ampliam e se aprofundam."

Concordo com Bauman que o universo on-line se sustenta na premissa de muitas possibilidades, e essa demanda acabou criando o que atualmente constitui o maior meio de comunicação. Não apenas isso, mas também muito de nossa forma de viver torna-se reflexo do que se faz ou se deixa de fazer on-line. Uma mulher de 20 anos disse o seguinte: "Não quero que minha vida me controle demais... O mais importante é se sentir à vontade... Ninguém quer ficar parado no mesmo emprego por muito tempo." (Bauman, 2011, p. 22). E ela não está sozinha no mundo, segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Administração (FIA-USP) com cerca de 200 jovens de São Paulo, revela que 99% dos nascidos entre 1980 e 1993 só se mantêm envolvidos com atividades que gostam, e 96% acreditam que o objetivo do trabalho é a realização pessoal. Diante da pergunta sobre qual pessoa gostariam de ser, as respostas variam entre "equilibrado entre a vida pessoal e profissional" e "fazer o que gosta e dá prazer." (disponível em http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG87165-7943-219,00-GERACAO+Y.html). Da mesma forma, as relações on-line estão associadas a esta facilidade em remodelar o próprio perfil, o que em outros contextos podem ser chamados de identidade. Estas novas "identidades" devem ser descartáveis, ou seja, no modo on-line a quantidade de conexões, e não a qualidade, é quem dita o nível de sucesso ou fracasso, assim as identidades insatisfatórias podem ser facilmente desfeitas e refeitas. A mesma velocidade e fragilidade dos laços on-line acabam acontecendo off-line, um analista de 22 anos disse que: "Quando as coisas começam a estabilizar fico infeliz, meu prazo é três meses, depois disso preciso mudar, aprender mais". O limite está a um clique de distância.

O jornalista Nichoals Carr em seu último livro, "The Shallows", retrata que a internet têm deixado as pessoas mais superficiais (disponível em http://super.abril.com.br/blogs/tendencias/a-internet-esta-nos-tornando-mais-burros/). Em resumo, cada novo meio estimula uma habilidade em detrimento das outras, assim jogar videogame estimula nossa capacidade visual, mas não muito nossa capacidade de leitura. Os hábitos digitais como pular de página em página, acessar celulares, TVs, emails, textos, ampliam nossa capacidade de prestar atenção em várias coisas ao mesmo tempo, porém diminui nossa habilidade de pensar profundamente em um tema. Essas afirmações geraram outras. O estudioso dos efeitos sociais e econômicos da internet, Clay Shirky, acredita que ainda é muito cedo para dizer isso. A internet está há no máximo quinze anos na vida das pessoas, e a tal superficialidade é só um sintoma que em breve será remediado. Já o neurocientista Steven Pinker lembra que todo novo meio de comunicação criou pânico ao chegar (veja algumas curiosidades aqui). Ainda assim, muitas inovações são possíveis fazendo a interação do meio on com o off-line. Basta pensar na gameficação, por exemplo.

No primeiro dia de trabalho deste ano, ouvia o relato de uma amiga sobre suas férias na praia, estava inconformada com a quantidade de jovens tomando sol ao mesmo tempo em que teclavam em seus aparelhos celulares, dizia que as pessoas estão mais distantes. O que é um paradoxo dos tempos modernos. O jornal Chronicle of Higher Education publicou recentemente em sua página da internet (http://chronicle.com) a façanha de uma adolescente que enviou três mil mensagens de texto num único mês. Isso significa que ela mandou uma média de cem mensagens por dia, ou cerca de uma mensagem a cada dez minutos do tempo em que esteve acordada, em outras palavras, a jovem não ficou sozinha por mais do que dez minutos. Minha amiga não sabia, mas reafirmava o que Bauman disse anteriormente, para eles a qualidade de um relacionamento se baseia na proximidade física, entre os corpos. Mas não podemos desconsiderar que grande parte destes relacionamentos físicos têm início nos meios virtuais. Segundo uma pesquisa realizada pela Ipsos-Reid, 44% dos americanos acreditam que as pessoas têm mais chances de encontrar um parceiro pela internet do que em um bar ou uma danceteria com outros indivíduos solteiros. Só 8% acreditam que as oportunidades são iguais. 30% dos entrevistados acreditam que um relacionamento que se inicia pela web têm mais chances de dar certo do que aqueles iniciados em bares ou danceterias. E 27% recomendam a internet para encotrar outras pessoas (disponível em http://www.parana-online.com.br/editoria/mundo/news/28455/?noticia=RELACIONAMENTO+ON+LINE+DA+CERTO). Claro que o tempo de duração de um relacionamento pode ajudar (ou atrapalhar) na qualidade de seus laços, porém esta não é uma exclusividade off-line. Na citação no início deste texto, Bauman afirmava que os relacionamentos on-line, na medida em que consistem na quantidade acabam por não aprofundar os vínculos em um único "perfil", ao contrário dos relacionamentos off-line que se apóiam no fortalecimento dos vínculos, cerceando a quantidade de contatos. Bom, e aí? Vamos generalizar?  

Recetememte, diante da possibilidade de se trabalhar com o tema "cibercultura", ouvi que talvez nem todos estejam interessados neste assunto. Verdade. Estamos num tempo de construções, onde o conhecimento está aberto a novos questionamentos e formulações, em especial dispostos num meio de comunicação compartilhado por muitos. Porém, quando vejo pais, cuidadores e até profissionais de diversas áreas preocupados com as gerações mais novas, inconformados com este ou aquele comportamento, muitas vezes sem saber o que fazer ou em como ter acesso a esta geração de conectados, penso que muitas destas dificuldades nunca antes foram enfrentadas. Sem determinismos, só espero que diante da incompreensão a motivação não seja a falta de interesse.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Um método perigoso

Numa viagem aos Estados Unidos:
Jung: "Na minha opinião o que estamos vendo é o futuro."
Freud: "Acha que eles sabem que estamos a caminho levando a praga para eles?"

Link para o filme: RMVB Legendado (296 MB) - não sei por quanto tempo disponível...

Gravidez na adolescência

Cerca de 10% dos nascimentos mundiais anuais são de adolescentes. Em 1980 a fecundidade entre adolescentes de 15 a 19 anos girava em torno de 9,1% da fecundidade nacional. Em 2000, esse número subiu para 19,4%. Deste total destaca-se que 0,9% de nascidos vivos eram de mães entre 10 e 14 anos e 22,4% de mães entre 15 a 19 anos de idade. Nos casos de gravidez na adolescência, 20% ocorrem nos primeiros meses de vida sexual, e entre 40% e 50% no primeiro ano. Estima-se que de 2000 a 2010 o número de lares chefiados por crianças e adolescentes mais que dobrou, sendo 113 mil deles por meninos e meninas de 10 a 14 anos e outros 661 mil pelos de 15 a 19 anos.

 Links de trabalhos e reportagens: