quinta-feira, 31 de maio de 2012

lacanês

Texto de Christian Ingo Lenz Dunker em Revista Cult

Ato analítico: designa tanto um tipo de intervenção do analista quanto o conjunto do tratamento psicanalítico e a passagem de analisante a analista. Como tipo de intervenção ele reconfigura a direção do tratamento (como que estabelecendo um novo início) e realiza a travessia de uma dada forma de relação na transferência, no sintoma ou na fantasia.

Estádio de espelho: descrito a partir dos estudos sobre a relação da criança diante do espelho (Walon) e da imagem do semelhante (Etologia) é utilizado por Lacan para explicar a formação do eu e a disposição imaginária de certos fenômenos que lhe são associados: agressividade, fascínio, transitivismo, negativismo.




Desejo: articulador central da subjetividade, o desejo organiza as relações temporais (o desejo é um fio que parte do presente, vai ao passado e lança-se ao futuro), os modos de relação com a alteridade (o desejo do homem é o desejo do Outro) e articula-se aos meios de subjetivação (linguagem, sexualidade, fantasia, Lei Simbólica). 


Imaginário: registro ou ordem de existência caracterizado pelo antropomorfismo, pela projeção e pela identificação. Corresponde ao domínio das imagens desde que consideradas segundo um tipo de reatividade, desconhecimento ou fascinação que são próprias. Os fenômenos de identificação de massa, de apaixonamento ou de idealização bem como a vocação alienante do eu possuem forte extração imaginária. 



Nome-do-Pai: principal operador da filiação de um sujeito, o Nome do Pai não equivale ao nome próprio do genitor, mas a uma função que, na neurose e na perversão, designa arbitrariamente a localização da falta e da causa do desejo (falo) no ­campo do Outro, indicando assim a localização indireta do sujeito no universo Simbólico. 




Objeto a: o termo objeto em psicanálise designa simultaneamente (a) um aspecto da pulsão, (b) um modo de relação e (c) a representação psíquica do outro. Lacan reconhece na noção de objeto a sua maior contribuição à psicanálise, ao reinterpretar a noção (a) como uma função de causalidade, (b) como um modo de relação não identificador e (c) como fonte da angústia e do que não pode ser representado para um sujeito.

Outro (ou grande Outro): no interior do registro simbólico, opondo-se tanto ao pequeno outro quanto ao objeto a, é o campo que determina o sujeito.

                           Quem é o Outro, o Hulk ou o Dr. Banner?

Real: registro ou ordem de existência do que é impossível de se representar na realidade psíquica ou material e não obstante é necessário para manter sua consistência. Apresenta-se como traumático, como angústia ou ainda como aspecto irredutível do corpo e da sexualidade. É estudado por Lacan a partir da escrita matemática e da lógica.


Simbólico: registro ou ordem de existência caracterizado pelo campo da linguagem e pela função da fala. Ordem ou sistema de trocas regido por uma Lei que sobredetermina as escolhas dos indivíduos.  O inconsciente se estrutura como uma linguagem na medida em que pertence ao domínio do Simbólico.

"Estranha relação é a que temos com as palavras. Aprendemos de pequenos umas quantas, ao longo da existência vamos recolhendo outras que vêm até nós pela instrução, pela conversação, pelo trato com os livros, e, no entanto, em comparação, são pouquíssimas aquelas sobre cujas significações, acepções e sentidos não teríamos nenhumas dúvidas se algum dia nos perguntássemos seriamente se as temos. Assim afirmamos e negamos, assim convencemos e somos convencidos, assim argumentamos, deduzímos e concluímos, discorrendo impávidos à superfície de conceitos sobre os quais só temos ideias muito vagas, e, apesar da falsa segurança que em geral aparentamos enquanto tacteamos o caminho no meio da cerração verbal, melhor ou pior lá nos vamos entendendo, e às vezes, até, encontrando."
 Trecho de O homem duplicado, de Saramago (pg. 77)

"De ciência minha, uma palavra que em si reúna e funda o falsear e o falsificar, não existe, Se o acto existe, também deveria existir a palavra, As que temos encontram-se nos dicionários, Todos os dicionários juntos não contêm nem metade dos termos de que precisaríamos para nos entendermos uns aos outros, Por exemplo, Por exemplo, não sei que palavra poderia expressar agora sobre a sobreposição e confusão de sentimentos que noto dentro de mim neste instante, Sentimentos, em relação a quê, Não a quê, a quem, A mim, Sim, a ti, Espero que não seja nada de muito mau, Há de tudo, como na botica, mas sossega, não to conseguiria explicar, por mais que o tentasse, Voltaremos a este tema outro dia, Queres dizer que nossa conversa chegou ao fim, Não foram essas as minhas palavras nem foi esse o sentido delas, Realmente não, desculpa, Em todo o caso, pensando bem, conviria que nos deixássemos ficar por aqui, é visível que há demasiada tensão entre nós, saltam faíscas a cada frase que nos sai da boca..."
 Idem, ibidem (Tertuliano e Maria da Paz, pg. 110)

"...Quanto mais te disfaçares, mais te parecerás a ti próprio."
Idem, ibidem (pg. 139)

"Tertuliano Máximo Afonso pousou o auscultador, depois deixou vagar o pensamento à vontade, como se continuasse a falar com a mãe, As palavras são o diabo, nós a crer que só deixamos sair da boca para fora aquelas que nos convêm, e de repente aparece uma que se mete pelo meio, não vimos de onde surgiu, não era para ali chamada, e, por causa dela, que não é raro termos depois dificuldade em recordar, o rumo da conversa muda bruscamente de quadrante, passamos a afirmar o que antes negávamos, ou vice-versa..."
Idem, ibidem (pg. 186)

Sinthoma: recuperação da forma antiga de escrever a palavra “sintoma”, equivale ao quarto elo que mantém unidos Real, Simbólico e Imaginário. Para um sujeito corresponde ao que é incurável em seus sintomas, inibições e angústias. Por exemplo: a atividade de escrever para James Joyce constitui um sinthoma.



"Que choques cá de querências contra carência, ostragodos versus piscigodos! Brékkek Kékkek Kékkek! Kóax Kóax Kóax! Ualu Ualu Ualu! Quaouauh! Onde bandos de botocudos inda avançam para arrasamassacrar linguarudos e verduns catapultarremessam contra kanibalísticos para fora da irlandalvosboycia de Montecaveira".
Trecho de Finnegans Wake, de Joyce




Sujeito: distingue-se do eu, do ego e da consciência como função de descentramento, divisão e negatividade. O sujeito, é para Lacan, um efeito de fala e de discurso que ocorre no tempo. Ele define-se mais por uma posição do que por conteúdos ou formas aos quais se identifica ou se aliena.


Silas Malafaia - Apresentador do programa Vitória em Cristo, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, presidente da Avec e do Comerj, autor de vários livros (perfil no facebook). Sobre a homofobia ver aqui



Fonte: 
SARAMAGO, José. O homem duplicado. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Depois fui entender

Quando assisti (ao acaso) este vídeo achei que se tratava do clipe oficial da música Pra Sonhar de Marcelo Jeneci. Lendo os comentários fui entender que se trata de uma edição de imagens sobre as férias de um casal! 
Revendo o vídeo não pude deixar de pensar... melhor não pensar...

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mídias...


A propaganda acima não existe! Pelo menos, não desta forma. Sensacionalismos à parte, o uso das mídias na educação das crianças é um debate que ainda precisa entrar num consenso.

O psicólogo britânico Aric Sigman, durante uma conferência no Royal College of Paediatrics and Child Health que aconteceu em Glasgow, na Escócia pediu aos pais que retomem o controle de seus lares. O especialista afirma que gerações de crianças correm o risco de ficar viciadas em TV, computador e outros aparelhos eletrônicos.

Sigman coletou e analisou resultados de estudos em áreas como cardiologia, neurofarmacologia e obesidade infantil. De acordo com o especialista, quando completar sete anos, uma criança nascida hoje terá passado o equivalente a um ano inteiro, 24 horas por dia, em frente a alguma tela. O autor citou também estudos que associaram o hábito de ver TV ou de outras telas a riscos maiores de a pessoa desenvolver diabetes e doenças cardiovasculares.

"Ser um pai passivo em relação às novas mídias é uma forma de negligência e não atende aos interesses das crianças." 
...e mídias.


A escocesa Martha Payne, de apenas 9 anos, provocou mudanças na alimentação de sua escola depois de fazer um blog que teve mais de 1 milhão de visitações e acabou rendendo um tuíte de apoio do conhecido chef Jamie Oliver.

Com a permissão da escola, a menina fotografava seus lanches e postava as fotos diariamente em seu blog "Never seconds" ("Nunca repetir o prato", em tradução adaptada), com comentários e notas sobre a comida. Entre os aspectos avaliados pela menina, estão a qualidade da comida, a quantidade de "garfadas" em uma porção e o número de fios de cabelo encontrados.

A ideia de criar o blog surgiu a partir de um trabalho escolar. "Ela chegou dizendo que queria escrever como uma jornalista todos os dias e achamos que um blog seria a melhor ideia", conta o pai.
 
 O governo local se viu numa saia justa e passou a adotar outras medidas nas refeições escolares. "Pela primeira vez eu vi no almoço tomates-cereja, rabanetes, cenouras e pedaços de pepino (...) Hoje me perguntaram pela primeira vez: 'É o suficiente para você?'", escreveu a menina.

sábado, 26 de maio de 2012

A mais-valia em Marx, o mais-gozar em Lacan e o crowdfunding

Durante uma aula uma colega demonstrou interesse em estudar o movimento crowdfunding (termo usado para as iniciativas de financiamento colaborativas). Só para ilustrar, cita-se o exemplo do filme Just do it que teve o apoio deste tipo de financiamento.



Fiz um comentário contrário ao que vinha sendo discutido, algumas pessoas viam no crowdfunding um movimento de fraternidade, onde o sujeito tem a possibilidadade de ajudar uma causa, ou uma ideia que acha de grande valor social. Bom, assinalei que via no crowdfunding o conceito lacaniano de mais-gozar. Claro, que estas ações podem transformar o mundo, ou ao menos tentar melhorá-lo, mas o fato de serem o conteúdo manifesto, pode ou não, ter a mesma equivalência do conteúdo latente. É o que pretendo discutir, a seguir.

Lacan tira o conceito de mais-gozar a partir da ideia marxista de mais-valia, assim precisamos enteder um pouco de Marx para chegarmos a Lacan.

Importante citar aqui que Lacan lia Marx e passa a inconrporar um pouco do marxismo nos Seminários a partir de 1968 (Livro 16 - De um Outro ao outro e Livro 17 - O avesso da psicanálise). Lembrando que nesta época, mais especificamente em maio de 68, a França vinha sofrendo uma reviravolta através de uma greve geral que acabou sendo considerada como um golpe comunista contra o governo gaullista. Quem quiser saber mais, vale o filme Os sonhadores, de Bernardo Bertolucci, onde conta a história de 3 jovens que veêm a revolução de 68 acontecer pela janela do quarto.



A aproximação de Lacan com Marx é feita por homologia e não por analogia. Marx descreve seu campo enquanto estrutura, principalmente a partir do mercado e de como se situa nele o trabalho: no mercado, o trabalho é comprado como uma mercadoria. Nesse sentido, Lacan vai falar de um novo discurso, o discurso capitalista. O lugar que o trabalho e o mercado assumem neste discurso é o que vai permitir a Marx situar a mais-valia.

Lacan duvida de que a tomada de poder seja capaz de subverter o sujeito capitalista. O que há de estrutural em Marx é este ter percebido que a mais-valia é produto do discurso capitalista, que não é senão a partir desse discurso que se pode determinar seu lugar, sendo ao mesmo tempo produto e causa. A mais-valia põe em funcionamento toda a produção - o sistema capitalista de produção é um sistema de produção de mais-valia.

Vamos considerar o seguinte: mais-valia é o termo usado para designar a disparidade entre o salário pago ao trabalhador e o valor do trabalho produzido. Um bom exemplo, é pensar que um trabalhador leva duas horas para produzir uma peça qualquer. Neste tempo este trabalhador produz o suficiente para pagar todo o seu trabalho, entretanto, ele permanece na empresa produzindo muito mais do que uma peça e vai receber o equivalente à confecção de apenas uma. O custo de cada peça assim como o salário do trabalhador não vão mudar, mas nos faz pensar que este trabalhou algumas horas "de graça", isso faz com que o custo do produto seja reduzido e aumente o lucro para o dono da empresa. Este valor a mais, a mais-valia, é apropriado pelo capitalista e constitui o que Marx chamou de Mais-valia Absoluta. A tecnologia também veio a servir ao mesmo propósito, ampliando a produtividade física do trabalho através da mecanização, surge assim a Mais-valia Relativa.

O estruturalismo em Marx, tal como propõe Lacan, consiste em considerar o mercado como o campo do Outro que totaliza os valores, como o Saber que prescreve os preços e que, como discurso, detém os meios de gozar. Há ainda um correlato do sujeito nesse mercado do Outro, o mais-gozar. Este é um conceito que aparece no Seminário 16 de Lacan, chamado de "de um Outro ao outro", partindo da articulação entre trabalho e renúncia ao gozo. O mais-gozar, enquanto função é um efeito do discurso que o articula, ele demonstra na renúncia ao gozo, um efeito do próprio discurso. 

Oliveira (2008) sugere a leitura d'O Capital em paralelo com o texto de Freud, Além do princípio do prazer. "A ideia fundamental é a de que o discurso pressupõe a perda de um objeto que deverá então retornar enquanto objeto a ser recuperado: gozo perdido a ser recuperado como mais-gozar".

Essa leitura nos permite reinterpretar o axioma lacaniano, um significante representa um sujeito junto a outro significante, de outra forma. Um valor de uso, da força de trabalho representa um trabalhador junto ao mercado resultando na mais-valia. Desta forma, representando o trabalhador junto ao mercado, a força de trabalho obtém seu valor de troca enquanto valor de uso. Contudo, nessa troca o trabalhador perde algo que tinha mas não possuía, o único modo de possuí-lo é perdê-lo. Na fórmula lacaniana do discurso do mestre vê-se que na operação de representação de um sujeito junto ao Outro significante, sempre há a produção de uma perda (do objeto a).

Discurso do Mestre (Lacan)                                                Em Marx

                                                                   valor-de-uso                                  valor-de-troca
  S1                   S2                                  (força de trabalho)                          Mercado (preço)
____                _____                         _________________                       _______________
   $                     a                                        trabalhador                                   mais-valia 

"Enquanto valor de uso, força de trabalho a ser vendida no mercado, o trabalhador é transformado num valor-de-troca, seu trabalho útil tornando-se trabalho abstrato. Mas, nessa transformação, algo falha, algo não é pago, a algo não é dado um preço: falha do saber, de onde cai a mais-valia." (Oliveira, idem).

Podemos dizer, a partir da constatação de que algo do trabalho não é pago ao trabalhador que, enquanto Sujeito, o gozo que viria daí fica agora refém do Mercado. Isso faz com que o Sujeito, ao perder algo, possa partir para uma reconquista. É justamente esta perda que engendrará o mais-gozar, que volta como sintoma.

Para quem quiser continuar lendo Olivieira a partir daqui, vale a pena acompanhar o autor na transformação do discurso do mestre para o discurso universitário, onde o saber é tomado como S2 e os universitários transformados em mais-valia, sendo a universidade um mercado do saber.

No nosso caso, preferimos avançar conceitualmente sobre o mais-gozar. Em francês, plus-de jour, algumas traduções tratam por mais-de-gozar, entretanto, na língua portuguesa este "de" não altera o sentido da expressão. Interessante ressaltar também que o objeto a é formalizado a partir destes seminários como mais-gozar. Outro ponto trata-se da afirmação de Lacan de que o sintoma não deve mais ser buscado em Hipócrates, mas sim em Marx sobre a ideia de mais-valia. O sujeito liberto do senhor feudal torna-se escravo de sua própria liberdade. O modo no qual cada um "sofre" em sua relação com o gozo, sabendo que este só se insere através do mais-gozar (objeto a), é o sintoma.

Se pensarmor o Sujeito a partir da (di)visão marxista, ou seja, patrão e proletário, devemos imaginar como cada um vai fazer sua participação no crowdfunding e o que isto significa. Quem realmente doa? Lacan, no Seminário 17, propõe o seguinte: "O rico, diz ele, ele compra tudo, em suma - enfim, ele compra muito. Mas queria que vocês meditassem sobre o seguinte - ele não paga." É nítido que o acúmulo da mais-valia ao capitalista faz com que este, ao fazer uso daquilo que outrora fora força-de-trabalho, usa o que excede ao trabalhador. Diminui de seu lucro. Quando o trabalhador doa o que está incutido de seu valor-de-uso, doa algo que já lhe escapa, algo sem preço, apesar de possuir um valor (note-se que são coisas diferentes). Num momento anterior (Seminário 10 - a angústia), Lacan falava que o amor é dar aquilo que não se tem. Nesse sentido, talvez, poderia-se dizer que o sujeito ao doar faça um gesto de amor.

Se, conforme dissemos anteriormente, o Sujeito já perde algo de que não possuía, ao fazer o movimento de doar, talvez seja uma forma imaginária de reaver um gozo que ficou refém do Mercado. O crowdfunding torna-se aqui, objeto a. É também, mais-gozar. Em águas passadas já foi objeto causa-do-desejo. A reconquista do que lhe foi tomado na mais-valia volta através do sentimento de "bem-estar" social que o ato de doar traz. Isso nos faz questionar se o bem-estar dito aqui volta-se ao Sujeito ou ao Social? Talvez ambos... O que vai ser tomado enquanto discurso, como conteúdo manifesto, revela algo do Sujeito não necessariamente, revela algo ao sujeito. Dizer que se está doando para ajudar numa causa que acredita, pode ser puramente retórico. Depende de como se fala, mas depende também de como se ouve. O sintoma é este dito sem se dizer. Irônico dizer que o Sujeito possa gozar quando doa algo que não tem, mas não pode gozar do fruto de seu trabalho.

De um jeito ou de outro, o importante é que não façamos do crowdfunding um movimento de escapismo romântico*. "... E há uma coisa que (o rico) não paga, é o saber." (Lacan, Seminário 17). 

* Sobre este conceito, um agradecimento especial aos questionamentos do querido amigo, acaciO.

Referencial:
Lacan. Jacques. O Seminário livro 10, A angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
_____________. O Seminário livro 16, De um Outro ao outro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
_____________. O Seminário livro 17, O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zagar Editor.
Oliveira. Cláudio. O chiste, a mais-valia e o mais-de-gozar ou o Capitalismo como uma piada. Disponível em http://www.fafich.ufmg.br/estudoslacanianos/pdf/Claudio_Oliveira_artigo_04.pdf. Último acesso em 26 de maio de 2012.

Outros links:
http://www.antroposmoderno.com/antro-articulo.php?id_articulo=511

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A gangue do guardanapo

Por Contardo Calligaris - Folha de São Paulo em 10/05/2012

O guardanapo do Ritz é a bandana perfeita para quem quer surfar nas costas dos bananas (que seríamos nós) 

A FOTOGRAFIA da semana, para mim, é a de Fernando Cavendish (dono da Delta) e Sérgio Cabral (governador do Rio), com outros políticos e empresários, alegres além da conta, todos arvorando um guardanapo branco amarrado na cabeça -isso, num restaurante de Paris (o do hotel Ritz, ao que parece), em 2009.

A cena me lembra um caso recente. Um casal de brasileiros frequenta habitualmente um restaurante de Manhattan, porque o lugar é simpático e porque o maître também é brasileiro. Uma noite, no dito restaurante, uma mesa acomoda um grupo especialmente barulhento de mais oito brasileiros: os homens competem clamando seus pedidos de vinhos caros, e as mulheres competem gritando as compras do dia.

O maître recebe o casal de "habitués" pedindo em voz baixa: "Por favor, não vamos falar português, prefiro que eles não saibam que somos brasileiros".

É difícil assumir a brasilidade quando, na boca dos emergentes, o "brado retumbante" é o barulho de quem ambiciona se apresentar ao mundo pelo chacoalho do trocado que tem no bolso.

A mobilidade social brasileira é rapidíssima: em uma geração, criam-se fortunas (com ou sem a cumplicidade do poder público corrupto). Nesse ritmo acelerado de ascensão social, os novos ricos, em regra, adotam o luxo como puro símbolo de status, sem o tempo de elaborar uma cultura que lhes permita apreciá-lo. Com isso, escreveu justamente Elio Gaspari (Folha de 2/5), tentando ser chiques, eles são bregas: sua ostentação revela a falta de um gosto próprio e a vontade de ocultar sua origem recente.

Os novos ricos se envergonham de seu passado mais humilde e tentam ocultá-lo num agito fanfarrão que, justamente, revela aquela procedência que eles gostariam de espantar. Enquanto isso, os outros, como o maître de Manhattan, envergonham-se dos privilegiados de seu país.

Mas tudo isso não nos diz ao que vêm, na festa de Cavendish e companhia, os lenços na cabeça.
Para quem não viu a foto: são guardanapos dobrados em triângulos, cuja base é amarrada ao redor da testa, de modo que o pano recaia sobre os cabelos e a ponta seja eventualmente segurada na nuca. Ou seja, são bandanas.

Pioneiros, vaqueiros e bandeirantes a caminho do Oeste usavam uma bandana, que, ao redor do pescoço, servia para proteger a boca da poeira e dos insetos ou, amarrada de baixo do chapéu, estancava o suor. Antes disso, o mesmo lenço segurava o cabelo dos piratas. Depois disso, nos anos 1960 e 1970, ele segurava o dos motoqueiros rebeldes da contracultura.

A bandana é, tradicionalmente, um apetrecho de quem se engaja (real ou metaforicamente) no vento e na poeira dos caminhos menos percorridos. O ideal do cowboy, do "easy-rider", do aventureiro, do pirata, do surfista errante ou do roqueiro pode se encarnar em usuários mais sedentários, mas não menos ousados -à condição, claro, que eles precisem segurar o cabelo (é o caso, por exemplo, dos chefes de cozinha de hoje). Mas como esse mesmo ideal se encarnaria nos clientes brasileiros do Ritz de Paris?

Talvez a bandana da foto de Cavendish, Cabral etc. seja apenas uma versão da gravata na testa daqueles primos bêbados, que, no fim de uma festa de casamento, escolhem mostrar a todos os outros ("inibidos", "caretas" e "obviamente" invejosos) que eles, sim, sabem se divertir e são os verdadeiros heróis do hedonismo -os que não recuam diante do prazer. Isso, claro, até eles vomitarem num canto (conselho: nunca fique num casamento depois da saída dos noivos).

Ou talvez Cavendish, Cabral etc. achem que eles são mesmo os novos "easy-riders", cowboys ou bandeirantes. Mas qual é, então, sua aventura? Em que jornada eles precisam segurar o cabelo para correr livres no vento?

O guardanapo branco do Ritz é uma curiosa bandana: ele diz que a aventura desses pretensos aventureiros é apenas a de esbanjar seu privilégio (mais ou menos legal), sonhando em ser o objeto da inveja de todos. Em síntese: o guardanapo do Ritz é a bandana perfeita para quem quer surfar nas costas dos bananas (que seríamos nós).

Elio Gaspari prometeu uma viagem a Dubai para quem explicasse as bandanas do grupo de Cavendish etc. Se ajudei, renuncio desde já à viagem oferecida. Receio encontrar, em Dubai, o mesmo pessoal do Ritz ou seus amigos. Prefiro que Gaspari me convide para um jantar qualquer. Aliás, nem precisa me convidar. Mas o jantar é sem bandanas, ok?
 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Automotores

Duas recomendações de textos e um vídeo "pós-moderno":
Leia como bem entender, a ordem dos fatores não altera o produto.




A ansiedade em apertar o botão

Existe um documentário da Discovery chamado de A Era dos Videogames. Acho interessante (e ontem voltei a pensar nisso) o fato de que o documentário traz o videgame a partir de um cenário cultural, uma das frases ditas logo no início é de que desde o começo os games tem sido um reflexo de sua época. 

Na década de 50 a ansiedade em apertar um botão voltava-se ao apocalipse. Estava-se a um aperto da guerra. Enquanto não ocorria de fato, acabou criando um imaginário sobre o vir-a-ser. Não à toa, a corrida bélica que se deu na Guerra Fria, que durou de 1945 a até 1991 com a extinção da União Soviética, causou algumas repercursões. O videogame é uma delas.

As explosões que faltaram no real tiveram sua chance no virtual. A novidade nos jogos de disputa onde havia duas bases uma de cada lado da tela e uma bola (ou melhor, um quadrado) e cada jogador deveria fazer um gol no adversário ficou monótono após o surgimento de Spacewar!. Foi aqui que as primeiras explosões puderam fazer parte de um imaginário humano virtualmente controlado. Ou será que não?! 

"Ninguém pode prever o rumo a ser tomado nem os custos ou as baixas que podem ocorrer." J. F. Kennedy falando sobre o videogame???


 









segunda-feira, 7 de maio de 2012

Salto no vazio

Antes de iniciar a aula, conversava com um amigo sobre as motivações e desmotivações do curso. Bom, a aula na verdade era uma palestra com o artista plástico Antonio Peticov e mal sabíamos nós como isso tudo terminaria...

Ao final da tal "palestra" fui agradecer pessoalmente ao artista, pois me fez pensar que o fato de continuar indo assistir as aulas, ou abrir um livro no ônibus, ou até mesmo parar para formar estas letras aqui, não está a (des)motivação na aula, no professor, no livro, no busão... na verdade, está em mim. Porque acredito! Foda-se!

Excelente a analogia feita com a foto Salto no Vazio, de Yves Klein. O rapaz ao saltar do muro não está muito preocupado se vai passar um caminhão de travesseiros, se os bombeiros vão aparecer, ou se, simplesmente vai se estatelar no chão. Isso tudo já é outra história, primeiro vem o ímpeto de pular.


Qual é o banheiro do Laerte?



Ao final da reportagem o jornalista Chico Pinheiro sugere a opção de 3 banheiros. Ora, na França os banheiros dos bares, restaurantes e afins tratavam de usar a mesma porta de entrada, lá dentro homens, mulheres e todas as variações que se orientava como bem entendesse. Banheiro masculino ou feminino? Que se faça o terceiro banheiro e fechamos os outros dois, então! Ou vai continuar classificando...?