segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Criança de 9 anos é encontrada acorrentada à cama no norte do PR



A cidade: Santo Antonio da Platina, cidadezinha no Paraná com menos de 50 mil habitantes. O caso: um casal acorrenta o filho ao pé da cama sem acesso à comida, água e banheiro.
Parece notícia policial, mas é. Após denúncias de vizinhos, a polícia encontrou o garoto preso na casa onde mora na tarde do dia 23 de agosto. O padrasto e a mãe foram trabalhar e acorrentaram o menor. Segundo eles, esta seria a primeira vez que fizeram algo assim e o menino estaria envolvido com drogas.

Em uma entrevista com o padrasto do garoto ouvimos o repórter: "Você sabe que agora, por mais que você tenha tido uma boa intenção, vocês vão responder judicialmente pela atitude que vocês tiveram?". O padrasto: "Com certeza. Só que acontece que eu não vou criar um moleque ladrão, maconheiro e bandido dentro da minha casa, para amanhã ou depois, vocês jogarem na minha cara que eu não fui pai e não pude educar". Depois ouvimos o padrasto relatar uma série de roubos cometidos pelo menino e, é de novo indagado pelo repórter: “Com tanta coisa errada (...) não era o caso de procurarem a Polícia Militar e falar ‘tá assim, não estamos conseguindo...’”. O padrasto: “Eu já liguei aqui (PM). Eu não, a minha esposa já ligou, acho que umas três ou quatro vezes. Mas ele sai de casa, ele some”.

Numa outra reportagem, a mãe dizia , "se tentar segurar é pau, pedra, tijolo, faca, o que tiver na frente ele taca. Não tem quem segure". O garoto ainda acrescenta detalhes, como a vez em que cortou o braço da irmã. A mãe também relata que “às vezes, é melhor acorrentar ali, do que ver mais tarde ele virar um bandido, um ladrão, um drogado. E você olhar na minha cara e falar que eu não criei meu filho, que eu não prestei para ser mãe”.

Crueldade dos pais? Um detalhe: o menino não apresentava sinais de maus tratos e já vinha sendo acompanhado pelo conselho tutelar desde 2008.

Por estes dias um programa de televisão que trata da rotina da polícia exibiu a ocorrência onde um menino estava em cima de uma casa jogando tijolos nas pessoas que passavam na rua. A polícia levou o menino para casa, que morava com a mãe e a avó e a questionaram. Esta mesma avó exibindo um atestado médico dizendo que o menino é hiperativo, disse que não sabia mais o que fazer com o menino, a mãe sai para trabalhar e o garoto foge da escola, de casa e fica “aprontando” pela rua. O policial respondeu: “a senhora é a responsável por ele!”

Não à toa os pais do garoto receiam sobre a opinião dos outros.

Se o menino se tornasse um bandido, um ladrão, um drogado, diriam que foi por falta de amor e cuidados. Não cuidou bem, agora não tem respeito. O oposto disto também traria dizeres: mimaram demais a criança. Por tanta permissividade, agora não tem o respeito do filho. De um lado ou de outro seriam acusados.

Mas, então, o que fazer?

E, assim (citando Calligaris), passamos do sentimento de indignação pela violência dos pais para a desconcertante e humilde perplexidade diante da impossível tarefa de educar...

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

15 de outubro: Dia Mundial de Lavar as Mãos



Hoje também é o Dia do Professor. Para o leitor mais ligado, já percebeu onde quero chegar.
Você seria capaz de enumerar quantos bons professores teve em sua vida? Mais ainda, qual foi o papel destes professores? Com certeza, um deles foi (co)responsável pelo caminho que você tomou em algum momento. Quando olhamos pela janela, percebemos que estamos vivendo outra realidade.
Hoje é dia do professor, mas nas escolas ouve-se que são educadores. Numa crítica dizia que “ser professor é apenas uma função técnica, ser educador vai além.” É relevante dizer que, de acordo com uma pesquisa, 20% dos professores da rede básica de ensino do Estado de São Paulo sofrem de depressão e 82% apontam ter sofrido algum tipo de violência física; uma outra pesquisa dizia que, as duas principais finalidades para os professores seriam 1) formar cidadãos conscientes (72,2%) e 2) desenvolver a criatividade e o espírito crítico (60,5%). O que está acontecendo!? Para se formar pessoas conscientes, críticas e criativas paga-se o preço com um atestado médico, um pneu furado ou um chute sorrateiro?
Há muito tempo atrás falava uma professora no Rio Grande do Norte, onde dizia, “parem de associar qualidade de educação com professor dentro de sala de aula.” Esta métrica ainda funciona, conforme apontou o Globo Repórter, exibido na última sexta-feira. Enquanto isso, nos grandes centros urbanos as escolas vão de mal a pior...
Conheço uma criança que vem fazendo uma campanha - solitária, claro - para conseguir amigos. Tem perguntado aos demais quem gostaria de ser seu amigo, abraça os candidatos, pede para tirar fotos dele com aqueles que se dispõem a ocupar esse lugar... Idiossincrasias à parte, esta criança passa grande parte de seu tempo na escola, como deve estar sendo sua campanha lá? Quem o (ou)viu, ou o apoiou? Algum professor? Educador? Algum amigo?
Onde estão agora as pessoas que um dia fizeram a diferença em nossas vidas? Já temos teorias demais para explicar o colapso escolar. Na prática, vemos Isadoras escrevendo seus descontentamentos em diários que agora são virtuais, e por isso saem de debaixo dos colchões. Uma mesma pesquisa apontava para o fato de que a maioria dos professores, apesar das dificuldades que enfrenta no cotidiano profissional, pretende permanecer na função que atualmente desempenha. Já não se sabe se isto é bom ou ruim.

Hoje, no Dia Mundial de Lavar as Mãos, deveríamos comemorar lavando as mãos! Ato higienista com bons resultados para a saúde física. Hoje, no Dia do Professor deveríamos parar de lavar as mãos. Ato usado por um certo procurador romano num caso importante. Sentido figurado para fugir da responsabilidade.

Hoje é dia do professor e/ou educador. Assim, o atual cenário da Educação é uma questão de nomenclatura. Posicionamento filosófico, político, de infraestrutura, piso salarial, investimento cultural, material didático, público, privado, questão de gênero, étnico, coletivo, individual...